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Reitor nomeado por Bolsonaro chama aluno de “analfabeto funcional” e hostiliza professor

30 de Outubro de 2021 - Revista Fórum
[Reitor nomeado por Bolsonaro chama aluno de “analfabeto funcional” e hostiliza professor]

“Gabriel, por gentileza… Eu estou reitor desta casa e, com a devida vênia, não é você que vai dizer os rumos que eu tenho que tomar na minha sessão. Ok?”, falou Janir

Um arquivo de áudio de uma reunião entre a direção da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), professores e representantes dos alunos da instituição ao qual a Fórum teve acesso mostra um verdadeiro show de arrogância, desrespeito e agressividade por parte do reitor-interventor Janir Alves Soares, nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro para liderar a instituição, mesmo sendo o último colocado da lista tríplice elaborada pela comunidade acadêmica.

Realizada em 2 de agosto, o áudio da reunião só foi divulgado recentemente e mostra uma conversa na qual vários assuntos relacionados à UFVJM eram tratados, como colação de grau e temas ligados à infraestrutura da instituição, que tem seus campi em várias cidades do extremo norte de Minas Gerais.

Num determinado ponto, um aluno do 4° período de Medicina é chamado para participar. Gabriel Rodrigues Rossi saúda aos presentes e fala com tranquilidade e educação. No entanto, após dizer que a reunião havia começado tratando de um tema e que o foco teria mudado, é interrompido pelo reitor.
 

O rapaz fica sem jeito e procura contornar a situação, se desculpando e dizendo que não queria determinar à autoridade máxima acadêmica da UFVJM o que poderia ser dito ou não.

“Claro, professor. De forma alguma eu quis censurá-lo. Eu só disse que a gente estava falando de um determinado assunto e o rumo tomado foi outro”, apaziguou o rapaz.

Gabriel fala por mais alguns minutos e mantém o tom sereno, sem fazer qualquer acusação ou elevar a temperatura da conversa. Mais uma vez é interrompido por Janir, que agora o insulta.

“Gabriel… Eu vou lhe dizer com muita serenidade: você tocou num assunto sobre o qual você não é autoridade pra tocar, eu penso que você já está numa universidade, num curso superior, e você deve saber ler. Se você conhece o decreto de 95, número 68, você precisa entender o que significa uma lista tríplice. Eu acho que você não sabe ler. Você é um analfabeto funcional”, falou o reitor-interventor bolsonarista.

No começo da gravação, antes de chamar Gabriel de analfabeto funcional, o reitor Janir já havia atacado um professor identificado apenas como João. A forma usada pelo homem responsável pela universidade pública é sempre de muita arrogância e intimidatória, semelhante ao comportamento de bolsonaristas de outras esferas da administração federal, profundamente aparelhada por radicais de extrema direita.

“Eu sou da roça, eu sou caipira… Não procura chifre em cabeça de cavalo que você acaba achando. Então, se a gente quer o bem da instituição, quer o bem do curso, e a gente tem a certeza que vocês tiveram a nota de aprovação, então a gente tem que ser o primeiro a acenar, desejar sucesso, porque seu diploma vai chegar… Eu digo isso de uma forma muito respeitosa, muito contundente, né, professor João, que tem sempre trabalhado em sentido oposto a isso. E isso, professor João, é um prejuízo não a mim, reitor, mas aos estudantes. Se de fato o senhor veste essa camisa, tem esse interesse, e luta por isso, então o senhor também tem que contribuir nesse sentido. Porque eu, como reitor desta casa, não estou aqui para tomar decisões ilegais. Então o senhor tem que encerrar esse discurso de vez, professor João. Lavar essa roupa (inaudível) e trabalhar em função de nossos estudantes. Porque pra mim é uma ironia, uma hipocrisia muito grande da parte do senhor dizer que ajuda, que defende e que acolhe, e por outro lado o senhor diz de forma repetida a ilegalidade da colação de grau”, atacou o reitor.

A reportagem da Fórum falou com Gabriel Rodrigues Rossi para entender como é o ambiente na UFJVM após a nomeação do atual reitor, alinhado fervorosamente às práticas antidemocráticas e agressivas do funcionalismo bolsonarista. Questionado se o problema era Janir, uma vez que o aluno já estudava na instituição em outras gestões, ele confirma a verve autoritária do atual administrador.

“Eu ingressei na UFVJM em 2019, quando reitor era o professor Gilciano. Sem dúvidas, esse tipo de comportamento é uma novidade e é inerente ao atual reitor, o professor Janir”, explicou.

O estudante de Medicina contou que a situação ainda mexe com ele e que não compreende a postura de Janir, que só vive nesse estado de nervos.

“Ainda consigo me lembrar perfeitamente de como me senti naquela situação. Nunca em minha vida fui tratado com tamanho desrespeito e falta de consideração. Realmente, para mim foi uma surpresa a autoridade máxima de uma universidade perder o decoro e a compostura que o cargo exige. Em minha fala, em momento algum eu o ataquei, somente fiz observações técnicas e uma análise real sobre o que é público e do conhecimento de todos, mas acredito que pela fragilidade e o não reconhecimento da comunidade acadêmica da sua ocupação do cargo de reitor, em todo momento ele se sente atacado e diminuído em situações assim, mesmo que em momento algum a intenção fosse essa. Parece que foi um pesadelo ter que escutá-lo proferindo todo seu ódio e autoritarismo através de suas palavras, que me fizeram sentir humilhado, constrangido, rebaixado, assediado e perseguido”, lamentou o aluno, em tom triste.

Gabriel diz que, mesmo passados quase três meses do ocorrido, “em momento algum foi procurado por ele ou algum representante da reitoria” para receber um pedido de desculpas pela situação ultrajante. O futuro médico relatou ainda o clima dentro da UFVJM e o terror psicológico imposto pela administração bolsonarista na universidade.

“O clima é péssimo. A maior parte dos estudantes se encontra apreensiva e temerosa com os rumos de desmonte que a universidade pública vem tomando. Não há um reconhecimento de sua autoridade. São frequentes as ações de assédios e perseguições contra os estudantes e nossos direitos estão sendo caçados. Isso se reflete em colegas que não têm mais coragem de participar de órgãos colegiados dentro dessa universidade por saberem das represálias que já acontecem”, denunciou.

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