Cultura

O 8 de março e as mulheres negras

08 de Março de 2021 - Redação Cabula agora
[O 8 de março e as mulheres negras]

Mais um 8 de Março e os convites se multiplicam para debates onde “gostaria-se de uma fala de uma mulher negra sobre o Dia Internacional da Mulher”, e a pergunta permanente recai: o que as mulheres negras têm com isso?

Há algumas décadas o movimento de mulheres negras optou por eleger uma data própria, o Dia da Mulher Afro-Latina-Americana e Caribenha (criado em 25 de julho de 1992), e mais recentemente, no Brasil, na mesma data-referência, 25 de Julho, é instituído o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra (2014). O 25 de Julho foi criado durante o I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-caribenhas, em Santo Domingo, República Dominicana, e sinalizou que este dia seria o marco internacional da luta e da resistência da mulher negra. Desde então, o movimento de mulheres negras tem atuado para consolidar e dar visibilidade a esta data, tendo em vista a condição de opressão de gênero, étnica e racial em que as mulheres negras estão expostas. Ter uma data que reconhece nossa resistência negra nos impulsiona, afirma nossa resistência cotidiana e histórica. Mas isso quer dizer que negligenciamos o 8 de Março ou, antes disso, ele negligenciou as mulheres negras? 

Sem questionar a importância histórica e política do Dia Internacional da Mulher, mas criando espaço para a reflexão, como as manifestações ligadas a essa data têm dialogado com a diversidade das mulheres no mundo e sobretudo no Brasil? As indígenas, as religiosas de matriz africana, as mulheres com deficiências, as rurais, as ribeirinhas, as mulheres trans, as quilombolas, as trabalhadoras e as negras (para não perder o foco), são realmente conectadas nessa data? 

Vejamos as iniciativas internacionais de Greve das Mulheres desenvolvidas no 8 de Março para chamar a atenção à força de produção das mulheres, parece que ainda consideram pouco que grande parte das mulheres negras brasileiras encontra-se em subempregos, sendo 22,4% delas no trabalho doméstico e 10,2% em trabalhos sem remuneração, segundo o IPEA (2011). Em tempos de crise do capital, são estas, as mulheres negras, as mais penalizadas, as que ocupam em massa os mais precários postos, as que primeiro experimentam as flexibilizações nas leis trabalhistas, condições estas que dificultam a realização de greve ou mesmo paralisação. Sem amparo legal, é trabalhar o que se exige ou experimentar o desemprego. 

É ponto indiscutível que o dia 8 de Março não pode passar sem protesto e denúncia. Mas é urgente termos que criar maneiras alternativas para que a principal oferta às mulheres negras não seja participar desses espaços de dentro do ônibus parado à caminho de casa ou do trabalho, aguardando a batucada passar na avenida. Lembremos que, no Brasil, um estudo da Firjan (2015) detectou que os trabalhadores das capitais brasileiras demoram em média 2 horas se deslocando entre casa-trabalho (em Natal, segundo a pesquisa, são aproximadamente 3 horas entre casa-trabalho-casa), realidade ainda mais cruel para aqueles e aquelas que residem nas periferias, afastadas dos grandes centros. Nem preciso citar que as periferias brasileiras são compostas por maioria negra. 

Mais recentemente, sobretudo desde os preparativos da Marcha das Mulheres Negras (ocorrida em 2015), o movimento de mulheres negras vem optando por adentrar também ao 8 de Março, reafirmando que esse espaço também é nosso e deve ser atualizado com nossas pautas. O debate precisa ser mais próximo das mulheres negras, dentro de suas comunidades, disponíveis em horários alternativos à sua jornada de trabalho, de acordo com o que tem movido essas mulheres no mundo. 

As mulheres negras são as trabalhadoras de “chão de fábrica”, são as verdadeiras operárias, e se um dia a revolução tiver de acontecer, não acontecerá sem que seja pelas mãos das mulheres negras. Como Angela Davis bem coloca, “as lutas das mulheres negras estão conectadas com as lutas de pessoas oprimidas em todas as partes”. Fiquemos atentas! E avante! 

  

Mais um 8 de Março e os convites se multiplicam para debates onde “gostaria-se de uma fala de uma mulher negra sobre o Dia Internacional da Mulher”, e a pergunta permanente recai: o que as mulheres negras têm com isso? 

Há algumas décadas o movimento de mulheres negras optou por eleger uma data própria, o Dia da Mulher Afro-Latina-Americana e Caribenha (criado em 25 de julho de 1992), e mais recentemente, no Brasil, na mesma data-referência, 25 de Julho, é instituído o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra (2014). O 25 de Julho foi criado durante o I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-caribenhas, em Santo Domingo, República Dominicana, e sinalizou que este dia seria o marco internacional da luta e da resistência da mulher negra. Desde então, o movimento de mulheres negras tem atuado para consolidar e dar visibilidade a esta data, tendo em vista a condição de opressão de gênero, étnica e racial em que as mulheres negras estão expostas. Ter uma data que reconhece nossa resistência negra nos impulsiona, afirma nossa resistência cotidiana e histórica. Mas isso quer dizer que negligenciamos o 8 de Março ou, antes disso, ele negligenciou as mulheres negras? 

Sem questionar a importância histórica e política do Dia Internacional da Mulher, mas criando espaço para a reflexão, como as manifestações ligadas a essa data têm dialogado com a diversidade das mulheres no mundo e sobretudo no Brasil? As indígenas, as religiosas de matriz africana, as mulheres com deficiências, as rurais, as ribeirinhas, as mulheres trans, as quilombolas, as trabalhadoras e as negras (para não perder o foco), são realmente conectadas nessa data? 

Vejamos as iniciativas internacionais de Greve das Mulheres desenvolvidas no 8 de Março para chamar a atenção à força de produção das mulheres, parece que ainda consideram pouco que grande parte das mulheres negras brasileiras encontra-se em subempregos, sendo 22,4% delas no trabalho doméstico e 10,2% em trabalhos sem remuneração, segundo o IPEA (2011). Em tempos de crise do capital, são estas, as mulheres negras, as mais penalizadas, as que ocupam em massa os mais precários postos, as que primeiro experimentam as flexibilizações nas leis trabalhistas, condições estas que dificultam a realização de greve ou mesmo paralisação. Sem amparo legal, é trabalhar o que se exige ou experimentar o desemprego. 

É ponto indiscutível que o dia 8 de Março não pode passar sem protesto e denúncia. Mas é urgente termos que criar maneiras alternativas para que a principal oferta às mulheres negras não seja participar desses espaços de dentro do ônibus parado à caminho de casa ou do trabalho, aguardando a batucada passar na avenida. Lembremos que, no Brasil, um estudo da Firjan (2015) detectou que os trabalhadores das capitais brasileiras demoram em média 2 horas se deslocando entre casa-trabalho (em Natal, segundo a pesquisa, são aproximadamente 3 horas entre casa-trabalho-casa), realidade ainda mais cruel para aqueles e aquelas que residem nas periferias, afastadas dos grandes centros. Nem preciso citar que as periferias brasileiras são compostas por maioria negra. 

Mais recentemente, sobretudo desde os preparativos da Marcha das Mulheres Negras (ocorrida em 2015), o movimento de mulheres negras vem optando por adentrar também ao 8 de Março, reafirmando que esse espaço também é nosso e deve ser atualizado com nossas pautas. O debate precisa ser mais próximo das mulheres negras, dentro de suas comunidades, disponíveis em horários alternativos à sua jornada de trabalho, de acordo com o que tem movido essas mulheres no mundo. 

As mulheres negras são as trabalhadoras de “chão de fábrica”, são as verdadeiras operárias, e se um dia a revolução tiver de acontecer, não acontecerá sem que seja pelas mãos das mulheres negras. Como Angela Davis bem coloca, “as lutas das mulheres negras estão conectadas com as lutas de pessoas oprimidas em todas as partes”. Fiquemos atentas! E avante! 

 
Referências: 

IPEA. Retrato das desigualdades de gênero e raça / Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada [et al.]. – 4ª ed. – Brasília: Ipea, 2011. 39 p. : il. Com a participação de: ONU Mulheres, Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM),. Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). ISBN 857811122-2. 

ANDRADE, H. Rio é cidade onde moradores mais perdem tempo no trajeto casa trabalho. Uol. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/09/11/trajeto-casa-trabalho-leva-ao-menos-duas-horas-em-oito-capitais-diz-firjan.htm>. Acessado em 08 de março de 2018.

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