Ministro tinha como objetivo evitar que senador fizesse delação.

O senador Delcídio do Amaral (PT) enviou a Procuradoria Geral da República uma gravação que revela uma tentativa do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, de lhe oferecer ajuda política e financeira para evitar que o parlamentar firmasse o acordo de delação premiada. A conversa entre o ministro e um assessor de Delcídio está relatada na delação do senador divulgada nesta terça (15) pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Na gravação, Mercadante não conversa diretamente com Delcídio, mas com um assessor de confiança do senador chamado José Eduardo Marzagão. De acordo com o G1, o ministro teria se reunido duas vezes com o auxiliar de Delcídio em seu gabinete no Ministério da Educação.
Segundo Delcídio, nas conversas mantidas com seu assessor, Mercadante queria transmitir a mensagem de que Delcídio não deveria dar informações ao Ministério Público sobre fatos relacionados à Lava Jato.
As conversas foram gravadas por Marzagão e entregues à PGR, que investiga o envolvimento de políticos no esquema de corrupção na Petrobras.
A assessoria do Ministério da Educação informou que Mercadante se pronunciará sobre o assunto ainda nesta terça.
Ajuda financeira
Segundo disse Delcídio ao Ministério Público, Mercadante ofereceu ajuda para solucionar questões “financeiras” e o pagamento de advogados no processo da Lava Jato.
“Que Aloísio Mercadante também afirmou que, em pouco tempo, o problema do depoente seria esquecido e que ficaria bem; que sabe dizer que, em dado momento, Eduardo Marzagão mencionou que o depoente e sua família e sua família estavam gastando dinheiro com advogados e, para tanto, colocando imóvel à venda; que naquele momento, Aloísio Mercadante disse que a questão financeira e, especificamente, o pagamento de advogados, poderia ser solucionado, provavelmente por meio de empresa ligada ao PT”, contou Delcídio no depoimento aos procuradores da República.
O senador petista afirma ainda, na delação, que acredita que Mercadante agiu como “emissário de Dilma Rousseff”, em função da confiança que a presidente da República tem no ministro da Educação.
“Que Aloísio Mercadante é um dos poucos que possui a confiança de Dilma Rousseff, tendo afirmado, inclusive, que ‘se ela tiver que descer a rampa do Planalto sozinha, eu descerei ao lado dela’. Que, em razão disso, entendeu o depoente que Aloísio Mercadante agiu como emissário da presidente da República e, portanto, do governo.”
Delcídio afirma ainda que entendeu que Mercadante fez uma "ameaça velada" ao dizer que ele seria um "agente de desestabilização", se firmasse acordo de delação premiada.
"Que Aloísio Mercadante disse, ainda, que se o depoente resolvesse colaborar com o Ministério Público Federal e com o Poder Judiciário, receberia uma 'responsabilidade monumental" por ter sido "um agente de desestabilização; Que o depoente achou estranha esta afirmac;ao, acreditando que possa ter representado ameac;a velada a vista de possível recrudescimento da crise política, o que poderia resultar em problemas para o próprio Aloísio Mercadante", ressalta outro trecho da delação.