Saúde

Misofonia: entenda hipersensibilidade auditiva que afeta pessoas com e sem autismo em todo o mundo

17 de Abril de 2024 - Redação Cabula agora
[Misofonia: entenda hipersensibilidade auditiva que afeta pessoas com e sem autismo em todo o mundo]

Em todo o mundo, de acordo com o Misophonia Institute, 15% dos adultos, e não apenas pessoas com autismo, sofrem com a misofonia / Foto ilustrativa

Em todo 2 de abril, é comemorado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, condição que, mesmo que afete milhares de pessoas em todo o mundo, demorou a ser relatada oficialmente pela medicina. Foi só há 81 anos, em 1943, que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) foi mencionado pela primeira vez e, ainda hoje, há uma ausência profunda de dados sobre o autismo no Brasil: o estudo mais recente é de 2010, da Organização Mundial da Saúde (OMS), que cita o país como tendo, naquela época, aproximadamente 2 milhões de pessoas com autismo.

A médica otorrinolaringologista Cristiane Teixeira explica que o TEA é um “modo de funcionamento”, e que é caracterizado por uma tríade comportamental: “Dificuldade na comunicação, prejuízo na interação social, interesses restritos e estereotipados, podendo apresentar também hipo ou hipersensibilidade sensorial. Fazendo referência a um largo espectro, com a presença de quadros que vão do autismo clássico até as alterações menos impactantes e com alto rendimento cognitivo, qualquer que seja o caso, é muito importante a intervenção precoce, que permite alterar o prognóstico e suavizar os sintomas”.

Entre os sentidos mais afetados pelo transtorno, e que normalmente é percebido logo nos primeiros meses ou anos de vida de uma criança no espectro, está a audição. É como Cristiane detalha: “Uma vez que os sentidos definem a realidade para cada um de nós, na maioria dos casos, a pessoa com TEA vive literalmente em uma realidade sensorialmente alternativa”. Ou seja: a música “Parabéns Pra Você”, o som da campainha ou do telefone tocando, e o barulho do ventilador, por exemplo, são ouvidos de um jeito diferente por quem é autista, podendo chegar até a ser debilitantes.

“Com uma imensa gama de sintomas, a sensibilidade sensorial pode variar, por exemplo, de uma criança que pode gostar de brincar com água corrente, a outra que sai correndo quando ouve o barulho da descarga sanitária. O fato é que, em graus variados, muitas pessoas não conseguem conviver nas situações mais comuns do cotidiano, como em shoppings e restaurantes, pois, nestes ambientes, podem ser deflagrados fortes sentimentos de angústia, rigidez e ansiedade, dificultando ainda mais as interações sociais”, ressalta a médica.

E, quando esses momentos de sensibilidade auditiva e ansiedade acontecem, há sinais, como a otorrinolaringologista enumera: geralmente, a pessoa tapa os ouvidos quando há sons altos, ou pode ter ataques de raiva frequentes em lugares barulhentos, como estações, estádios ou cinemas. O que, para a maior parte da população, é só um barulho chato, pode ser algo doloroso para alguém com TEA.

Essa disfunção, que afeta a humanidade desde que o mundo é mundo, hoje é chamada de Síndrome da Sensibilidade Seletiva a Sons (misofonia), e só foi reconhecida nos anos 2000. Estima-se que, no Brasil, cerca de 150 mil pessoas recebem esse diagnóstico por ano. Em todo o mundo, de acordo com o Misophonia Institute, 15% dos adultos, com ou sem autismo, sofrem com a misofonia.

“Os ouvidos doem com certos sons, como alarmes de incêndio, fogos de artifício ou estouro de balões. Pouco conhecida, a misofonia também é considerada uma disfunção, que faz com que sons comuns, específicos, independente da intensidade, provoquem uma resposta emocional intensa, proporcionando liberação de adrenalina, com sobrecarga de energia em resposta a uma suposta ameaça. Geralmente, o maior incômodo está em sons altos, súbitos e, principalmente, inesperados, que não sejam possíveis de controlar. Quando o som é provocado, torna-se mais fácil tolerá-lo. O mesmo ocorre quando as pessoas sabem de onde vem o som: fogos de artifício disparados aleatoriamente podem ser insuportáveis, mas, quando são queimados como parte de um programa, podem ser aceitáveis“, relata Cristiane Teixeira.

COMO LIDAR COM A MISOFONIA

Para lidar com tudo isso no dia a dia, principalmente em ambientes barulhentos, a médica recomenda o uso de tampões ou fones de ouvido: “Mas, é importante retirá-los por pelo menos metade do dia, para evitar que a sensibilidade auditiva aumente”.

Outra dica da especialista é gravar os sons que incomodam mais e ouvi-los vez ou outra, em volume controlado. “Quando precisar de concentração, que seja proporcionado um ambiente tranquilo, evitando lugares dispersivos, podendo ser inserido em programa de inclusão na escola, que possibilite realizar as avaliações fora da sala de aula, quando necessário”, diz a especialista.

Com relação às terapias específicas, Cristiane observa que pode ser importante um treinamento auditivo com fonoaudiólogo especializado, além de terapia ocupacional, identificando quais são as sensibilidades e diminuindo os efeitos negativos que elas causam.

“Conhecer os principais papéis de cada profissional da equipe multidisciplinar é fundamental para o entendimento do tratamento como um todo. A interação facilita o planejamento terapêutico, proporcionando resultados mais positivos para os pacientes. Além disso, o envolvimento dos pais é essencial, ‘terapeutizando’ o ambiente doméstico e fornecendo informações sobre habilidades e funcionamento fora do consultório”, analisa ela.

E, por fim, Cristiane ressalta: cada indivíduo é único. Caso tenha sintomas parecidos, ou conheça alguém que passe por isso, o primeiro passo é procurar um especialista. Na psicologia, existe um conceito conhecido como “sinestesia”, descrito como uma condição neurológica que interpreta, de formas diferentes, os sinais percebidos pelo sistema sensorial. Provavelmente, como conta a médica, para quem tem TEA e sofre com a misofonia, os sons nunca deixem de ter forma, textura, e não parem de machucar – mas, é possível aprender a conviver com eles.

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