Saúde

Antidepressivos podem acelerar o avanço cognitivo em pacientes com demência

27 de Fevereiro de 2025 - Redação Cabula agora
[Antidepressivos podem acelerar o avanço cognitivo em pacientes com demência]

Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

O uso de certos antidepressivos pode agravar a condição de demência em idosos, conforme um estudo realizado na Suécia com mais de 18 mil participantes. Os resultados sugerem que os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), como o escitalopram, estão associados a um aumento na velocidade do declínio cognitivo.

Pesquisas anteriores já tentaram avaliar a segurança do uso desses medicamentos em pacientes com doenças neurodegenerativas. Alguns estudos indicam um efeito positivo desses fármacos na redução de biomarcadores relacionados à demência, embora os achados anteriores tenham sido variados.

A professora emérita da Universidade Federal Fluminense, Vilma Câmara, afirma que a neurodegeneração e a depressão podem estar interligadas. Ela explica que indivíduos que vivenciam episódios depressivos ao longo da vida e não conseguem se recuperar estão em maior risco de desenvolver demência na velhice.

Além disso, a especialista ressalta que a depressão pode manifestar sintomas de perda cognitiva, como lapsos de memória. Por essa razão, é comum que profissionais de saúde prescrevam antidepressivos em estágios iniciais para tratar essa possível causa subjacente.

O estudo sueco destaca que alguns pacientes recebem esses medicamentos para lidar com sintomas comportamentais e psicológicos da demência, que podem ser confundidos com episódios de depressão. Para esses casos, a pesquisa desaconselha o uso de antidepressivos, uma vez que o tratamento não aborda a verdadeira causa dos sintomas.

Os dados foram coletados de uma pesquisa com quase 19 mil pessoas, cuja idade média era de 78 anos, todas diagnosticadas recentemente com demência e que receberam a prescrição de antidepressivos pela primeira vez até seis meses antes do diagnóstico. Os participantes foram monitorados entre 2007 e 2018, com avaliações cognitivas realizadas em média a cada quatro anos.

Na coorte analisada, os ISRS foram prescritos para 60% dos participantes, sendo os antidepressivos mais comuns entre os disponíveis. Os dados revelaram uma correlação significativa entre doses mais elevadas desses medicamentos e o aumento da gravidade dos quadros de demência. O estudo foi publicado na respeitável revista científica BMC Medicine.

Os pesquisadores mencionam, entre as limitações do estudo, que a análise pode ter sido subdimensionada. A gravidade da demência em cada paciente pode influenciar individualmente o declínio cognitivo, sem que se possa atribuir a causa de forma conclusiva ao uso dos medicamentos.

Especialistas destacam a importância de um diagnóstico preciso para garantir o tratamento correto. No Brasil, o diagnóstico de demência é majoritariamente clínico, conforme explica Kleber Francisco Vargas, psiquiatra associado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares e ao hospital universitário de Campo Grande. Para isso, é essencial passar por uma avaliação neuropsicológica que examina diversas funções cerebrais.

Os dados de uma anamnese completa são complementados por exames de sangue, que ajudam a descartar outras causas de demência, além de exames de imagem, como ressonância magnética do crânio, e testes de espectroscopia, que avaliam a presença de determinadas proteínas no corpo.

O tratamento envolve tanto intervenções medicamentosas quanto não medicamentosas. Os anticolinesterásicos, por exemplo, são destacados por ajudar a retardar o progresso da doença. As mais recentes inovações incluem os antiamiloides, que foram aprovados pela agência sanitária americana entre 2021 e 2024, embora ainda não estejam disponíveis no Brasil.

Além disso, para preservar a reserva cognitiva, é essencial que os pacientes pratiquem atividades físicas, mantenham uma dieta equilibrada e participem de programas de reabilitação cognitiva, com acompanhamento de uma equipe multidisciplinar que inclua fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas.

Entre os estudos que investigaram os efeitos dos antidepressivos em pacientes com demência, um trabalho publicado na revista Alzheimer’s & Dementia acompanhou 5,5 mil holandeses por mais de dez anos. Todos os participantes ingressaram no estudo sem sinais de perda cognitiva, e seu histórico de uso desses medicamentos foi analisado com base em registros de farmácias.

Embora os resultados tenham mostrado que a neurodegeneração foi um pouco mais intensa com antidepressivos tricíclicos em comparação aos ISRS, o estudo conclui que não há evidências suficientes para associar o uso dessas drogas ao risco de demência, ao declínio cognitivo acelerado ou à atrofia cerebral.

Outra pesquisa, uma revisão sistemática e meta-análise realizada por pesquisadores da Alemanha e da Suíça e divulgada no ano passado, revela que os antidepressivos também não apresentam efeitos positivos na saúde desses pacientes. Entre mais de 27 mil artigos científicos analisados, não foram encontradas evidências suficientes de que esses medicamentos possam melhorar o estado cognitivo, a qualidade de vida ou a funcionalidade na população idosa com demência.

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