Saúde

Principal causa de afastamento do trabalho, álcool leva à depressão e pode até matar, alertam médicos

25 de Fevereiro de 2014 - Piatã

Alcoolismo é considerado doença crônica que tem cura, mas deve ser tratado por toda a vida

Foto: Divulgação.

Alcoolismo é a principal causa de pedidos de auxílio-doença, de acordo com dados do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). O número de pessoas que se afastaram do trabalho por transtornos mentais e comportamentais decorrentes do abuso do uso do álcool aumentou em 19% em quatro anos. Em 2009, eram 12.055 e, em 2013, 14.420. De acordo com especialistas ouvidos pelo R7, o excesso ou abuso de bebidas alcóolicas trazem prejuízos para o organismo como também para a vida social do dependente.

A psiquiatra e presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas) explica que o álcool provoca uma espécie de anestesia no cérebro e, consequentemente, a pessoa perde a “concentração, atenção, os reflexos e a memória”.

— O álcool provoca a demência alcóolica que é uma doença em que o indivíduo fica senil antes do tempo, pois o cérebro para de funcionar devido a alterações no cérebro. Além de afetar todo o sistema nervoso central, o álcool também mexe com sistema cardiovascular, ou seja, as pessoas ficam mais vulneráveis a ter AVC (acidente vascular cerebral). Esse rompimento de artérias, também chamado de derrame, pode deixar a pessoa com sequelas ou levar à morte.

Ainda em relação ao organismo, a especialista explica que a substância também gera hipertensão, além de problemas gastrointestinais, como gastrite, cirrose hepática e hepatite alcoólica. Uma das consequências do alcoolismo pode ser também o desenvolvimento de vários tipos de câncer, como de boca, garganta, intestino e outros.

Além do aspecto físico, os dependentes poderão também entrar em depressão, após o isolamento social.

— Como o álcool provoca várias consequências no sistema nervoso central, a pessoa muitas vezes se isola, já que os pensamentos e o comportamento são alterados. Com isso, a pessoa fica tão autocentrada que tem dificuldades de se relacionar. Ele fica irritado, ansioso e pode entrar em depressão.

Segundo o psiquiatra e especialista em dependência química e presidente-executivo do Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool), Arthur Guerra de Andrade, o alcoolismo “tem traços hereditários, mas é uma doença multifatorial”, que pode estar associado a problemas sociais, culturais, psicológicos e até profissionais.

Sou dependente?

A professora do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp Zila Sanchez explica que para identificar se a pessoa está dependente basta verificar a “relação que ela estabelece com o álcool”.

— A necessidade de ele acordar e ter que beber ou até mesmo deixar pra trás tudo que achava importante para beber pode ser um sinal. Tudo é uma questão de como ele trata o consumo do álcool.

De acordo com Andrade, dificilmente o alcóolatra procura ajuda sozinho “porque ele sempre acha que pode parar de beber quando quiser”.

— A negação faz parte do quadro clínico, assim como mudança de comportamento, saúde debilitada, prejuízos no trabalho e problemas nas relações familiares.

Tratamento

De acordo com a presidente da Abead, o alcoolismo é uma doença crônica e, como todas as outras, deverá “ser tratada ao longo da vida”. Por enquanto, a ciência não descobriu a cura.

— Porém, hoje há ótimos tratamentos em que 60% das pessoas se recuperam. Porém, se não for tratado, pode ser fatal. Não necessariamente a pessoa que tem a doença necessita ser internada ou tomar remédios. 90% dos casos de dependentes são tratados em consultório. 5% são internados porque são casos muito graves e outros 5% são internados por pouco tempo, apenas para desintoxicar. No tratamento, o médico conta com a ajuda de um profissional de outra área, como terapeuta ocupacional, psicólogo e até mesmo assistente social.

Aumento no uso

O último levantamento realizado pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) mostra que, em seis anos, o consumo de álcool no Brasil cresceu 20%. Entre 2006 e 2012, o índice de pessoas que bebem pelo menos uma vez por semana passou de 45% para 54%.

*R7

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